Transformação digital: a lição ainda não aprendida pelos varejistas

Não é de hoje que se fala em transformação digital nas organizações. O surgimento e a consolidação das tecnologias conectadas fazem com que o tema esteja no centro das discussões sobre novos modelos de negócio, principalmente para um varejo físico sedento por inovação e mudança. Contudo, a lição ainda não foi aprendida. Em minha recente viagem ao Vale do Silício, o assunto segue em pauta e foi abordado por praticamente todas as empresas da região.

É uma ideia que consiste na utilização inteligente das ferramentas digitais para promover a inovação, estimular novas práticas e aproximar a organização de seus clientes, afinal estamos na era da personalização e da conveniência. Dessa forma, fala mais das pessoas envolvidas nesses processos do que das máquinas em si. A cultura precisa ser moldada para abraçar esse novo conceito, integrar todos os departamentos e deixar os colaboradores à vontade e engajados para buscar novas soluções. Não basta, portanto, impor diferentes tecnologias e acreditar que é o suficiente para encarar os desafios. Lembre-se: imposição não combina com transformação.

Aqui, ainda é comum ver empreendedores deixando apenas nas costas do departamento de TI a responsabilidade pela implementação e funcionamento de todos os serviços tecnológicos. A tecnologia não é mais uma área de demandas específicas, mas sim um processo contínuo presente nas mais diversas áreas. O sucesso depende justamente da aproximação delas, que podem aceitar, ou não, os novos processos. A empresa só muda quando todos os profissionais estão unidos no mesmo objetivo. E, na minha opinião, essa mudança é de cima para baixo, ou seja, do maior escalão para o menor, caso contrário, a energia em projetos independentes não será suficiente para romper as barreiras da hierarquia caso os líderes não estejam devidamente envolvidos.

Em um mundo cada vez mais competitivo, o varejista não pode mais ignorar a transformação digital, a disrupção de modelos, a inovação constante. Independentemente do setor em que atua, a recomendação é fazer mais com menos, ou seja, ter um alto desempenho nos negócios com um baixo custo – o que só é possível com o suporte da tecnologia, que traz empiricamente produtividade a processos engessados e caros. Nenhum empreendedor, por menor que seja, consegue trabalhar e inovar sem o apoio de recursos digitais. Foi-se o tempo em que essas ferramentas eram restritas ao mundo online. Virtual e real são dois lados da mesma moeda e dizem respeito tanto ao varejo físico quanto ao e-commerce.

Tanto que é inadmissível ver lojistas ignorando a grande quantidade de dados existentes para a tomada de decisões. Não faltam soluções que possibilitam as mais diferentes análises e informações. O conceito de machine learning (aprendizado da máquina), por exemplo, evoluiu e tem evoluído justamente para otimizar a gestão. Ainda hoje os varejistas recorrem ao feeling, ao "achismo" sobre seu negócio e seus consumidores, para tentar aumentar as vendas. Não dá mais para ser assim. É preciso atrelar suas ações aos dados – "because data beats opinions", que em português quer dizer: "porque dados superam a opinião", frase cujo uso tem sido constante em palestras sobre analytics ao redor do mundo.

Muitos empreendedores de lojas físicas do Brasil ainda estão presos às perguntas erradas. Não há uma fórmula mágica que ensine a resposta certa, mas é possível aprender a fazer os questionamentos corretos. É preciso olhar para dentro do seu negócio e pensar: 'quais perguntas eu tenho que fazer para melhorar a minha empresa, o meu negócio, o meu produto?' Questões erradas dão respostas erradas. Ao acertar as perguntas, elas darão o primeiro passo para entrar, de fato, no processo da transformação digital.

Flavia Pini — COO na FX Retail Analytics, empresa que oferece inteligência para o varejo por meio do monitoramento de fluxo. 

 

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